Agrodestaque entrevista Marina Kolland Dantas

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Trajetória e atuação profissional.

Sou gestora ambiental formada na Esalq em 2012, recebendo pelo elevado desempenho acadêmico o “Prêmio Luiz de Queiroz”, outorgado aos primeiros colocados em suas respectivas turmas. Durante a graduação desenvolvi um conjunto de atividades que foram fundamentais para a minha trajetória profissional. Primeiramente, destaco os estágios relacionados com a temática de gestão integrada de resíduos sólidos: o Programa USP Recicla e um projeto de adequação ambiental que executei no Departamento de Fitopatologia e Nematologia da Esalq. Durante dois anos participei da gestão jurídico-financeira da Esalq Júnior Florestal, aprendendo sobre o movimento Empresa Júnior e aperfeiçoando habilidades e competências vinculadas ao planejamento estratégico, organização de eventos, comunicação e liderança.

Atuei no movimento estudantil a partir do Centro Acadêmico da Gestão Ambiental (CAGeA) e, no último ano da graduação, realizei um estágio profissionalizante não remunerado na Secretaria de Meio Ambiente do Município de Araraquara-SP. Ademais, participei de um Projeto de Auditoria e Monitoramento do Programa Município VerdeAzul (PMVA) executado mediante parceria entre o Departamento de Ciências Florestais da Esalq e a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, para melhoria desta política pública ambiental paulista. Estas duas experiências foram fundamentais para gerar meu interesse pela gestão ambiental direcionada à esfera de atuação pública.

Ao término da graduação trabalhei como analista ambiental em consultoria na área de limpeza urbana e gestão de resíduos sólidos, com elaboração de propostas técnicas para concorrências públicas, planos e projetos vinculados à aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) em diversos municípios brasileiros.

Posteriormente, retornei ao meio acadêmico. Obtive, em 2016, o título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Administração de Organizações (PPGAO) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP), instituição na qual atualmente curso o Doutorado. Em 2016 também finalizei a especialização em gestão pública pela Escola Técnica e de Gestão da USP.

Sob a orientação da Profa. Claudia Souza Passador, na FEA-RP efetivamente direcionei minha carreira para o setor público, compondo a equipe de pesquisadores do Centro de Estudos em Gestão e Políticas Públicas Contemporâneas (GPublic). Neste sentido, em 2017, recebi o convite para atuar como Diretora de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal da Estância Turística de Ibitinga-SP, período de grandes desafios diante da responsabilidade e diversidade de pautas vinculadas com a gestão ambiental municipal. Participei de diversas instâncias participativas, como por exemplo, membro da Câmara Técnica de Recursos Naturais do Comitê da Bacia Hidrográfica Tietê-Jacaré.

Como resultado do trabalho de uma ampla equipe intersetorial, destaco que Ibitinga ocupou, no ciclo 2017, a posição 62° no Ranking Ambiental Paulista mensurado pelo Programa Município VerdeAzul, alcançando 74,04 pontos no Índice de Avaliação Ambiental (IAA) - que avalia a eficácia da gestão ambiental. Este resultado representou um importante avanço, considerando que em 2016, Ibitinga ocupava a posição 118°.

 

Fale um pouco sobre suas atribuições.

Atuo na área acadêmica, com atividades de formação para a docência universitária e principal foco em pesquisa. Minha tese de doutorado está sendo desenvolvida no âmbito das políticas públicas intersetoriais relacionadas ao meio ambiente nos municípios do Estado de São Paulo. Integro o Grupo de Estudos “Políticas de Estado e Desenvolvimento”, que tem como objetivo aprofundar as pesquisas sobre gestão pública mediante convênio entre o GPUBLIC/USP, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Instituto de Estudos Avançados da USP. Os estudos buscam a construção e a disseminação de novas práticas de gestão, avaliação e implementação de políticas públicas de saúde, educação, cultura e meio ambiente no Brasil, tendo em vista a interdisciplinaridade e intersetorialidade destas políticas. Ademais, também sou associada da Sociedade Brasileira de Administração Pública (SBAP).

Publiquei 6 artigos científicos, com destaque para uma publicação no Periódico Evaluation and Program Planning e atuo enquanto avaliadora de eventos, como: Encontro da ANPAD (EnANPAD), Encontro Brasileiro de Administração Pública (EBAP), Seminários de Administração FEA-SP/USP e Encontro Internacional sobre Gestão Empresarial e Meio Ambiente (Engema).

Busco em minha atuação sempre conciliar o avanço teórico do campo de públicas com projetos que apresentem implicações práticas, ou seja, com resultados que possam ser utilizados para a melhoria da gestão pública vinculada à agenda ambiental brasileira e, consequentemente, o compromisso com a qualidade de vida das presentes e futuras gerações. Acredito que a grande contribuição está em fomentar avanços nas lacunas históricas que persistem para a efetividade das políticas públicas ambientais, de forma que possamos cumprir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU.

 

Quais os principais desafios desse setor?

Existem inúmeras dificuldades relacionadas com a gestão ambiental no setor público brasileiro, primordialmente no que tange à esfera das responsabilidades municipais, o elo mais frágil do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama). Entre estes desafios: falhas na cooperação intergovernamental; fragmentação das políticas; posição marginal da área ambiental na estrutura; déficits de capacidade institucional; manutenção do patrimonialismo na gestão; sistemas falhos de monitoramento e avaliação; estruturas administrativas insuficientes; e a descontinuidade no tempo e no espaço das políticas.

Além disso, apesar do aumento das discussões sobre um modelo de desenvolvimento pautado na sustentabilidade, ainda prevalece em nosso sistema a hegemonia da esfera econômica enquanto a dimensão ambiental tende a ser subjugada nos processos decisórios.

 

Que tipo de profissional esse mercado espera?

O mercado exige um profissional com visão holística, integrada e de longo prazo; desenvolvimento da habilidade de escrita; elevada capacidade de dialogar e negociar com diferentes stakeholders; preparo para lidar com situações de escassez de recursos e grande responsabilidade; e habilidade para cooperação e trabalho em equipe.

A efetividade da política ambiental depende da cooperação e coerência pela incorporação de suas pautas junto às agendas de outros setores. Portanto, cabe enfatizar que a capacidade de trabalhar com profissionais de diferentes formações (e visões de mundo) é fundamental ao profissional desta área.

 

Texto: Letícia Santin | Estagiária de Jornalismo

Revisão: Caio Albuquerque

15/02/2019